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Iniciativa corajosa do SESC, entrega respeito a quem dedicou a vida a te fazer feliz

Na foto: Morita Heredia, bailarina e residente do Retiro dos Artistas. | foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil

Para começar esse artigo, é importante que você responda para si algumas perguntas:


01)  Até que idade você acredita que viverá?
02)  Até qual idade você será visto como um profissional atraente para o mercado no qual você atua?
03)  O que você fará quando o mercado te descartar apenas por sua idade, ou, condição física e emocional?

Bom, depois de perguntas tão inquietantes talvez esse texto sequer devesse continuar, afinal, já deve ter movimentado muitos pensamentos em você que lê. Porém, é importante continuar, porque existem muitas pessoas e projetos preocupados exatamente com isso: pessoas descartadas pelo mercado de trabalho e uma das mais conhecidas dessas, acaba de receber uma ótima notícias.


Se você nunca ouviu falar sobre o “Retiro dos Artistas”, resumidamente, podemos dizer que se trata de uma instituição que possui uma vila com algumas casinhas que, como o nome diz, recebem artistas que foram descartados pelo cruel mundo do entretenimento comercial, ou, artistas com problemas típicos do avanço da idade, como a demência, problemas de mobilidade, doenças degenerativas etc.


Assim como acontece com todas as instituições que geram benefícios sociais que não atendem a interesses comerciais, o retiro dos artistas sempre enfrentou dificuldades para se financiar e quem já viveu com pessoas idosas em casa, sabe o quão caro custa hospedar, alimentar, medicar e manter as pessoas em uma vida digna com fraldas geriátricas, próteses dentárias e outras necessidades básicas para mínima subsistência humana da pessoa idosa. Com o retiro não foi diferente. Sempre precisaram contar com ajuda, a conta-gotas, de fãs nostálgicos, familiares dos artistas, outros artistas sensibilizados por seus colegas de profissão aposentados e programas de TV com matérias sensacionalistas que ajudavam a atrair doadores, em troca de expor os artistas em processo de decadência física, mental e social, mas sem dar oportunidades profissionais a esses artistas.


A HORA DA MUDANÇA:


Agora que você já entendeu o tamanho do desafio dessa instituição tão necessária, é importante entender, também, que, apesar da idade, muitos desses artistas ainda estão em condições de trabalho, embora emissoras e patrocinadores se recusem a viabilizá-los apenas por um preconceito etário. Essas pessoas são invisibilizadas e impedidas de exercerem seus ofícios.

Na foto: Dona Jura, personagem da Novela "O Clone" (rede Globo, 2002), vivida pela atriz Solange Couto

Por exemplo, quem não lembra do bordão “Não é brinquedo não” repetido por Dona Jura na novela “O Clone”, sucesso da rede Globo no início dos anos 2000? Pois bem, Solange Couto, a intérprete dessa e de tantas outras personagens, apesar da fama, também precisou viver no retiro dos artistas durante a pandemia, porque ao contrário do que se pode imaginar, esses artistas não ganham tão bem a ponto de fazerem grandes poupanças com seus salários na TV e no teatro. Enquanto estão no ar, conseguem manter suas vidas, mas dinheiro mesmo, só ganha quem o mercado publicitário acha adequado para trabalhos comerciais, o que significa, na maioria das vezes, ser jovem e com corpos esculturais, exigências incompatíveis com a maioria das pessoas com mais de sessenta anos.


Entretanto, com uma reviravolta digna de cinema, o SESC firmou nesse mês uma parceria inédita, com um contrato de 10 anos, transformando o Retiro dos Artistas em uma unidade oficial do SESC RJ, garantindo orçamento para produções culturais produzidas, dirigidas, administradas e interpretadas pelos próprios residentes do Retiro.

Solenidade que celebração da parceria do SESC com o Retiro dos Artistas | Na foto: Stepan Nercessian, Zezé Motta, Cida Cabral, Antonio Florencio Queiroz Junior e Gabriel Chalita

Essa é uma demonstração de respeito que faz jus à fama e à tradição humanística do maior e melhor incentivador sociocultural do Brasil.

 

Um problema comum:


Nós, da agência La Fourmi Cultural conhecemos essa falta de respeito do mercado esses artistas que tanto nos alegraram, de perto.


Cena do filme "As Aparecidas" | Em cena: Eva Wilma, Gorete Milagres, Miriam Mehler, Norma Blum, Karin Rodrigues e Ziza Brisola.

Em 2022, fomos escolhidos pela Halo Produções Artísticas para buscarmos os últimos patrocinadores necessários para o lançamento do filme “Senhoras Aparecidas” que depois mudou de nome para “As Aparecidas”, exatamente pela percepção da produtora de que as empresas tinham um certo preconceito com o termo “senhoras”.


Nesse filme, a produtora e roteirista Erikah Barbin, o produtor e roteirista Francisco Costabile e o diretor Ivan Feijó, tiveram uma audácia admirável. Primeiro, ao desenvolverem um roteiro que protagonizava a vida e o reencontro de cinco personagens, amigas de infância, todas com mais de 70 anos, para viverem uma aventura pelas estradas de São Paulo e depois por escalarem grandes nomes da teledramaturgia nacional, que talvez você não conheça, pelos motivos expostos na primeira parte do texto, mas que, sem sombra de dúvidas, foram responsáveis por entreter e tornar melhor as noites de seus pais, mães e avós, em um tempo que não havia internet, mas havia grandes novelas para se ver após um longo dia de trabalho e obrigações domésticas.

Cena do filme "As Aparecidas" | Em cena: Eva Wilma, Gorete Milagres, Miriam Mehler, Neusa Borges, Norma Blum, Karin Rodrigues e Ziza Brisola.

Quem lidera essa trupe pelas estradas desse filme ainda não lançado, é a atriz Eva Wilma (1933 – 2021), protagonista de tantas novelas e com mais de 70 anos de carreira. Junto à ela estão atrizes como Neusa Borges, que também já estampou matérias de revistas cobrando por oportunidades, antes de ser escalada para o filme, além de Miriam Mehler, Norma Blum e Karin Rodrigues. Todas grandes estrelas, de grandes filmes, novelas e peças de teatro.

Set de filmagem do filme "As Aparecidas". Em cena: Milhem Cortaz e Clarisse Abujamra

É um filme divertido e movimentado, uma aventura de estrada que se passa a bordo de um ônibus de excursões que viaja pelas rodovias de São Paulo e é pilotado pelo ator Milhem Cortaz, em uma interação hilária com as ilustres passageiras; é dinâmico, pois conta ainda com outro grandes nomes: Gorete Milagres, Marcelo Serrado e Clarisse Abujamra, em uma concertação inédita no cinema nacional.


Porém, embora devamos reconhecer a perspicácia de marcas como a SEMP TCL, Cometa, Breton, Havan e Europa Filmes, além de Spcine, BRDE, Proac, que investiram pesado via Leis de Incentivo e editais, para que essa história fosse filmada, nem a empresa em que Eva Wilma trabalhou por mais de cinco décadas topou patrocinar os 20% finais do filme, por “falta de interesse comercial”.


Set de filmagem do filme "As Aparecidas". Em cena: Marcelo Serrado

Nessa jornada, em busca do último patrocinador, já falamos com mais de 300 marcas, que vão desde empresas de transporte rodoviários, passando por supermercados, produtos alimentícios, farmácias e farmacêuticas e até convênios médicos que patrocinam times de futebol, mas se recusam a patrocinar um filme que retrata e conversa com o principal público de seus serviços.


Embora isso nunca tenha sido verbalizado como motivo para as recusas, surpreende que após o falecimento de Eva, em maio de 2021, durante a pandemia, depois de ter filmado todas suas cenas no filme, nenhum outro patrocínio privado foi firmado – nem com a empresa a quem Eva emprestou seu talento por mais de 50 anos.


Por outro lado, para nós da La Fourmi Cultural, da Halo Produções, da Europa Filmes  e da O2 Play, é motivo de enorme orgulho estarmos envolvidos no “Grand Finale” da vida e obra de Eva Wilma. Porque, sim, as pessoas envelhecem e falecem. É natural. Temer isso significaria ignorar e desprestigiar pessoas que dedicaram suas vidas, a tornarem as nossas vidas melhores, mais aprazíveis e suportáveis. Seria uma atitude covarde não reconhecer isso. Nós, assim como o SESC, sabemos que na cultura, parafraseando Caetano e Gil, “não temos tempo de temer a morte”.


Depois de décadas de um trabalho lindo e árduo, o Retiro dos Artistas foi reconhecido e finalmente conseguiu um contrato incrível com o SESC, um exemplo de ação sociocultural de altíssimo impacto. Aqui, seguimos trabalhando, com coragem e determinação, “atentos e fortes” para, em breve, filhos, netos, mães e avós se deleitarem em família nos cinemas de todo o Brasil.


Bateu aquela curiosidade? Assista abaixo o trailer dessa belíssima obra que homenageia as matriarcas de todas as famílias:



Mais Homenagens:

E por falar em talentos que dedicaram suas vidas a entreter as nossas, as tornando mais leves e divertidas, gostaríamos de expressar nossas condolências a toda a família Abravanel e fãs do apresentador, empresário e pessoa generosa que foi na descoberta e na oferta de oportunidades para novos talentos de todas as expressões artísticas, Senor Abravanel, o eterno Silvio Santos.


Silvio Santos (12 de dezembro de 1930 - 17 de agosto 2024) | Foto: Divulgação - Programa Silvio Santos (SBT)


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